segunda-feira, 29 de março de 2010

Teatro brasileiro foge da tradição

ANÁLISE

LUIZ FERNANDO RAMOS

ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010


O teatro brasileiro está estranho. Como o teatro no mundo todo, reflete os impasses de uma época em que a dramaturgia já não é a mesma, mas resiste o impulso humano de criar narrativas cênicas. A considerar por uma amostragem do Festival de Curitiba, englobando tanto espetáculos da Mostra Oficial como do Fringe, percebe-se algumas recorrências que permitem agrupar em zonas comuns a diversidade exibida.

Como tendência dominante, estão os espetáculos construídos em processo colaborativo.

Entre esses, há aqueles em que o encenador assume a dramaturgia, como é o caso de "Vida", de Márcio Abreu, talvez o grande destaque do Festival, "Escuro", de Leonardo Moreira, e "Ruído Branco da Palavra Noite", da dupla Caetano Gotardo e Marina Trajan.

Há também alguns em que o encenador escreve a cena a partir de material anterior, mas ainda conta com a colaboração dos atores e atrizes, como nos casos de "Formas Breves", de Bia Lessa, com texto de Maria Borba, e "De como Me Tornei Bruta Flor", de Cibele Forjaz a partir de poema de Cláudia Schapira.

Outra vertente de colaborativo é aquela em que um texto dramático é reprocessado na encenação, como mostram os impactantes "Memória da Cana" de Newton Moreno, cruzando "Álbum de Família" de Nelson Rodrigues e "Casa Grande e Senzala" de Gilberto Freyre, ou "Travesties", de Caetano Vilela, relendo a peça de Tom Stoppard na chave da Ópera Seca.

Num outro grupo, que confirma de perspectiva distinta a mesma tendência, agrupam-se peças montadas a partir de dramaturgias fortes e autônomas, mas que encerram em si a dissolução da estrutura dramática tradicional. Incluem-se aí "In on It", de Daniel Macivor, encenado por Enrique Diaz, "Psicose 4h48", de Sarah Kane na leitura de Marcos Damaceno, ou "Como se Fosse o Mundo", texto do novíssimo Paulo Zwolinski apresentado em vertente radical por Roberto Alvim.

Ainda há dramas propriamente, mas mesmo esses transpiram os ares do espírito do tempo, quando mais que histórias acabadas com personagens bem definidos, o teatro oferece atos performativos que sobressaem às tramas. É o caso de "Música para Ninar Dinossauros", de Bortolotto, "Navio Ancorado no Espaço", evocação de Paulo José da poeta Ana Cristina César, partindo de texto de Maria Helena Kühner e dramaturgia de Walter Daguerre, "A Idade da Ameixa", de Aristides Vargas, dirigido por Guilherme Leme, e do bizarro "grand-guinol" de Paulo Biscaia, "Manson Superstar".

Na tradição do teatro épico, que desde meados do século passado lida com as alternativas de narrar o mundo para além do drama, destacam-se "Till", de Luiz Alberto de Abreu, com o grupo Galpão, "Macbeth", de Shakespeare, na versão de Aderbal Freire Filho, ou a adaptação de Edson Bueno das crônicas e da biografia de Nelson Rodrigues em "A Vida como Ela É".

As pulsões antidramáticas, e que chamam o público a se deter na matéria cênica bruta, poderiam ser apontadas mesmo em trabalhos irregulares, como os experimentais curitibanos "Chiclete e Som", de Nina Rosa Sá, e "Primeiro Crime", de Darlei Fernandes, ou os mineiros "Barba Azul" e "John e Joe", dos grupos Andante e Trama.

De algum modo, percebe-se em toda essa produção, ao lado da vontade de continuar contando histórias, a dificuldade de fazê-lo com as formas convencionais. É dessa tensão que advém a estranheza detectada.

JORNAL DO BRASIL

Festival de Curitiba: Fringe oferece cardápio variado de peças
Macksen Luiz
27/03/2010

CURITIBA - Desde 1998, quando o Festival de Curitiba incorporou o Fringe, reproduzindo a mostra paralela do Festival de Edimburgo, que esse corpo teatral vem crescendo exponencialmente. Se no primeiro ano eram sete espetáculos, nesta 13ª edição são mais de 350 montagens que disputam a visibilidade que o festival promove no curto espaço de sua realização. É uma oferta massacrante, em que cabem todo e qualquer franco-atirador, desde que tenha condições de ocupar algum dos muitos espaços disponíveis para a abrigá-los. A produção do festival apenas cria alguma infraestrutura para que os grupos possam se apresentar, mas o que trazem para mostrar, como chegar a Curitiba, e como aliciar o público para as apresentações, fica por conta e risco de cada grupo. Neste balaio teatral, cabe de tudo, desde um grupo de Iracemápolis, interior de São Paulo, que mostrou com um grupo de crianças A hora e vez de Augusto Matraga, até Cachorro, bem sucedido espetáculo de Vinícius Arneiro, como aconteceu neste ano.

Há apelos vulgares, experimentação equivocada, montagens de conclusão de curso de teatro, investidas amadoras, apostas comerciais, e tudo o que possa caber em uma feira que expõe tantas mercadorias. Com esta abusiva oferta, não há plateia para a maior parte deste derramamento de espetáculos, e o que se constata são salas com menos de uma dezena de espectadores, panfletagem dos grupos em torno da sede do festival, e algumas exibições gratuitas, como forma de atração. Ao longo dos anos e a partir da constatação de todos esses problemas, a direção do festival, mesmo mantendo a posição de não interferir na seleção dos espetáculos do Fringe, flexibiliza a ideia “democrática” da mostra, com eventual seleção para alguns espaços. Este ano, o teatro Novelas Curitibanas abrigou montagens escolhidos por um curador, o mineiro Chico Pelúcio, que trouxe propostas cênicas de Belo Horizonte e de São Paulo.

O grupo mineiro Trama mostrou John & Joe, da autora húngara Ágota Kristof, com direção de Eid Ribeiro. Num bar, o encontro de dois bêbados, sem rumo, desenrola uma conversa conduzida pela lógica alcoólica, na qual situações algo absurdas determinam e estabelecem as razões dessas existências vagantes. Num clima levemente beckettiano, com parcimônia de palavras e movimentos que se aproximam da mímica, o diretor conduz com empenho, mas sem criar efetiva atmosfera, o trio de atores. De como fiquei bruta flor, da Cia. Livre de São Paulo, traz um poema dramático de Claudia Shapira que trata da separação amorosa do ponto de vista feminino. Duas mulheres, em 10 etapas do desencontro afetivo, mergulham nas delícias do encontro, na dor da separação e na liberdade da superação. O texto de Shapira não demonstra vitalidade poética, banalizado por imagens que remetem ao convencional. A diretora Cibele Forjaz revestiu esse material pouco estimulante dos recursos de sua “máquina teatral”, que inclui o público como elemento ativo e o ator como veículo de construção cênica. Com duas atrizes, Lucienne Guedes e Mariana Senne, identificadas com o jogo narrativo da representação e da ritualização do ato teatral, ampliam os limites do texto.

O Fringe, naquele que talvez seja o seu melhor segmento, reúne a produção do teatro curitibano nos 11 dias do festival, destacando as montagens de diretores que mantem a diversidade cênica da cidade. Nesta edição, a amostra foi bastante satisfatória, não só pela volta de Felipe Hirsch à Curitiba, depois de anos de intinerância da sua Sutil Companhia, como pela inclusão de Marcio Abreu na mostra contemporânea. Hirsh, além de Cinema, apresentou o instigante Não sobre o amor, e volta a instalar a companhia na sua cidade de origem. Marcio Abreu, com a pulsante Vida demarcou lugar na cena atual, que se confirma pelo exercício em Descartes com lentes, em que utiliza o brilhante texto de Paulo Leminski no mesmo registro inteligente da sua escrita. A palavra é encenada por sua interioridade narrativa, descolada do dramático para reinventar-se, como no texto, outros pontos de recepção. Numa perspectiva menos inquieta, mas nem por isso mais “fácil”, o diretor Marcos Damaceno, com a sólida interpretação de Rosana Stavis, dimensiona com integridade o mergulho de Sarah Kane em Psicose 4h48. A vida como ela é – Nelson Rodrigues traz dramaturgia que evita o “óbvio ululante” de tantas colagens sobre o universo rodriguiano. Com a ambientação de um espetáculo teatro em plena concepcão, o diretor Edson Bueno cria paralelismos com alguma inventividade. Manson supestar prossegue na linha do diretor Paulo Biscaia Filho, que pede emprestado ao cinema e ao “trash” o material de suas montagens. Desta vez, com a “quadrinizacão” do crime da “família de Charles Mason”, que matou a atriz Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski, na década de 60, Biscaia está menos hábil na manipulação de suas obsessões cênicas.

Em outra mostra paralela, a do Sesi Dramaturgia, o diretor Roberto Alvim encenou um dos textos selecionados em concurso do Núcleo de Dramaturgia do Sesi Paraná. Como se fosse o mundo, do curitibano Paulo Zwolinski, a relação de um casal é repassada em várias estágios da vida em comum, com direito a violência velada e explícita. Próxima a um conto, com quadros estanques, e diálogos em ritmo literário, a peca de Zwolinski aponta mais para suas possibilidades futuras como autor, do que propriamente por esta primeira tentativa. Alvim confronta o casal com a plateia, criando uma contraluz através de luminosidade mortiça que incide diretamente nos olhos do espectador. Os atores são apenas sombras, que se delineiam-se, vagando pelo palco, figurando-se através das falas. Um artifício do diretor, que deste modo conferiu uma dimensão mais extensa e provocante do que o restrito e passivo alcance do texto.

Festival de Curitiba mostra quebra de fronteira entre teatro e artes plásticas

GUSTAVO FIORATTI

29 de março de 2010
da Folha de S.Paulo, enviado especial a Curitiba

No momento em que o ator Ranieri Gonzalez toma impulso para um mergulho de cabeça contra a parede cenográfica do espetáculo "Vida", fica em suspensão não só o ritmo alucinante de uma peça cheia de dilemas íntimos, com base na obra de Paulo Leminski, mas também uma espécie de simbologia metalinguística apontando o esfacelamento de fronteiras entre expressões artísticas, mais especificamente entre teatro e artes visuais.

Com essa peça sobretudo, mas também em "Cinema", de Felipe Hirsch, "Travesties", da Companhia de Ópera Seca, e "Um Navio no Espaço ou Ana Cristina César", dirigida por Paulo José, o festival representou um grupo de encenadores empenhados em reverter uma tradicional hierarquia das artes cênicas. Nestes trabalhos, cenário, luz e trilha sonora deixam de ser elementos ilustrativos.

Sinais dos tempos, estavam presentes na mostra contemporânea desta edição do festival cenografias assinadas por Daniela Thomas ("Cinema"), William Pereira ("Travesties"), Márcio Medina ("Till, a Saga de um Herói Torto") e Bia Lessa ("Formas Breves"). São nomes habituados a lidar com essa quebra; todos eles já exerceram alguma outra representação artística, ou como diretores, ou como escritores e intérpretes, ou como escultores até.

"Estive na Bienal de Veneza de 2009, e ali ficou muito evidente que as fronteiras entre expressões artísticas caducaram", diz Daniela Thomas. Sua cenografia para "Cinema" praticamente fundamenta a composição dramatúrgica da peça. É sobre o cenário, pensado também por Hirsch antes do texto, que surge o protagonista de uma história: o próprio cinema. Não é literal, mas está ali "o retrato de uma sala de rua de São Paulo, dessas que estão desaparecendo", define o diretor.

A iluminação reflete no rosto dos personagens, sentados numa plateia, a luz emitida por um projetor. Foi concebida por Beto Bruel, iluminador que já venceu três vezes o Shell.

De volta ao ator que se jogou contra o cenário de "Vida", atravessando uma de suas paredes, rasgando com o próprio corpo um ambiente onírico e claustrofóbico: quão próximo estaria ele de uma ação performática, expressão hoje mais relacionada às artes visuais?

Muito próximo, responde o diretor da peça, Márcio Abreu. "A interface com artes de outra natureza abre o campo de leitura do texto." Por trás daquela cena, existe um trabalho de materiais. O próprio cenógrafo, Fernando Marés, ganhou arranhões, testando a possibilidade de romper a parede com o corpo. Faz lembrar a dupla Marina Abramovic e Ulay em "Interruption in Space", de 1977, em que ambos se jogam contra a parede à exaustão.

O cenário de "Travesties" é outro exemplo, chegou ao teatro Guaíra em dois caminhões. Um amontoado de jornais e livros, além de mesas e cadeiras, que William Pereira usou para compor um tipo de fundo grandioso, mais comum em óperas, com estética acentuada pela iluminação do diretor Caetano Vilela. Impactante, o que era fundo veio à frente do espetáculo. Especialmente na chuva de livros do primeiro ato.

Para a curadora do festival, Tânia Brandão, a ascensão do trabalho de cenógrafos a um primeiro plano reflete o aprofundamento de pesquisas que, em parte, deriva do suporte financeiro de políticas públicas e leis de incentivo. "Se não fosse esse inchaço, acho que não teríamos conseguido fazer essa representação na Mostra Contemporânea", diz. Para o diretor do festival, o exemplo contrário é a própria edição do ano passado, que minguou por conta da crise mundial.

Renovação, afinal?

por Beth Néspoli

ESTADÃO
27.março.2010

No Caderno 2 de hoje, 27, falo sobre uma possível renovação do Festival de Curitiba, que vem perdendo relevância, com a curadoria que já começa a apontar no Fringe. É uma aposta. Tomara que ocorra e abra espaço para uma mostra curitibana dentro do festival com grupos como a Cia. Brasileira de Teatro, a Vigor Mortis, a Armadilha, a do Marcos Damaceno, o trabalho do Edson Bueno, os grupos que organizaram a Mostra Pequenos Conteúdos, entre outras que posso ter esquecido agora.
*
É preciso acabar com a indiferenciação do Fringe, atualmente tomado por produções curitibanas - 173 das 374 que participaram este ano. Um festival deveria ser um momento especial, uma espécie de suspensão na rotina das temporadas, para a observação do trabalho de artistas que estão buscando aprimoramento e avanço de linguagem, e que, por isso, valem ser vistos mesmo quando não alcançam a qualidade desejada. Não se exclui aí a importância da diversidade. Das comédias aos musicais para o grande público, a cena teatral deve ser ampla e democrática. Cada vertente do teatro deve ter seu espaço. Mas é preciso que sejam diferenciados até para que o público possa fazer escolhas conscientes, sejam elas quais forem.
*
Não se justifica o trabalho de estruturar um festival, evento que requer patrocinadores e uma logística trabalhosa, para abrigar o teatro de consumo, que pode ser visto a qualquer momento, em toda parte, entretenimento este que trabalha com recurso já gastos, facilmente reconhecíveis, com olhos voltados para a bilheteria e com o objetivo primeiro de agradar. Um espetáculo assim pode alcançar um bom resultado dentro do que se propõe, da mesma forma que, no outro extremo, a experimentação pode naufragar em não-comunicação. Não é de qualidade final que se fala, ainda que seja sempre desejada, mas de ponto de partida, de inquietação. Foi justamente a presença da inquietação nas primeiras mostras o que abriu e sedimentou o espaço do Festival de Curitiba no calendário cultural nacional. Tomara que essa posição possa ser mantida. Seria bom para o teatro, para o festival e para o público que o frequenta a cada ano.

BREVES IMPRESSÕES SOBRE O FESTIVAL

FIGURINO E CENA
BLOG DO ATOR, FIGURINISTA E CENÓGRAFO PAULO VINÍCIUS. CURITIBA/PR

DOMINGO, 28 DE MARÇO DE 2010

Vi a estréia da Companhia Brasileira, o espetáculo VIDA. Como já disse aqui no blog, gosto muito do trabalho do diretor Márcio Abreu, sempre presto muita atenção em como a palavra é trabalhada na dramaturgia. A forma de como o texto é interpretado pelos atores é uma preocupação recorrente nos espetáculos do Márcio. Apostos frisados, repetições constantes e uma maneira cotidiana de fazer a palavra caber na boca dos atores, já são marcas registradas na Companhia. As soluções criativas quanto à encenação também são elementos que me chamam muita atenção. Desta vez, o cenário foi grandioso com direito a parede de fundo móvel e outras revelações. A Companhia Brasileira fará uma nova temporada de VIDA em Abril, quem não conseguiu ver no Festival, não perca.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sobre tudo, o nada, ou a vida

CADERNO TEATRAL


IMPRESSÕES DE ESPETÁCULOS POR LUCIANNO MAZA



Uma parte do teatro contemporâneo é considerada, por muitos, vazia. É o movimento que abdica das grandes questões, dos fatos dramáticos, da reflexão temática, para falar, de modo prosaico, sobre o nada. Nada este que, na verdade, é uma tentativa de falar de tudo, em especial das pequenas coisas, dos microcosmos. Algumas vezes, porém, assistimos um espetáculo que, partindo do nada, revela muito mais do que poderíamos esperar, sobre a vida. A nova montagem da Companhia Brasileira de Teatro - uma das principais, não apenas de Curitiba, mas do Brasil – se lança nesta direção, desde o título: "Vida", que, ao mesmo tempo que abarca um infinito de possibilidades, não quer dizer objetivamente nada. Apoiando-se na obra do conterrâneo Paulo Leminski, mais em suas ideias e ambiente, do que numa adaptação de seu trabalho, o grupo criou uma situação onde integrantes de uma banda ensaiam um número para o jubileu da cidade onde moram – eles não são de lá. Numa sala, sem janelas, os quatro músicos, que parecem amadores, desfiam suas angústias e anseios, aquilo que os incomoda e desejam, seja um aniversário esquecido, uma vontade de ir para o espaço, querer ser o outro, ou manter-se na quietude do silêncio. Rompendo com a estrutura ficcional de dramaturgia, os personagens, como na vida, não estão presos a uma única linha de raciocínio, ou a ações coerentes e premeditadas, eles percorrem pensamentos labirínticos, falas e interrupções, ao mesmo tempo em que usam o passado da lembrança como tentativa de contato, ao contar sua história a quem os escuta, buscam no presente da relação de interesse do público, para suas idiossincrasias, o vínculo do agora: “Alguém escapou?” insiste uma das figuras, em cena, de tempos em tempos. Existe ali uma infinidade de recursos que vêm se cristalizando na cena contemporânea, desde os personagens que se chamam pelo nome real de seus atores, até as referências pessoais a suas carreiras, isso, não necessariamente acrescenta ao excelente resultado do espetáculo, mas, de certa forma, é coerente a proposta do diretor e autor do texto (cuja dramaturgia divide com as atrizes) Márcio Abreu, que rende, principalmente, quando aprofunda-se nos pequenos temas levantados para, sem demora, os cortar, passar para outro, geralmente quando a emoção está quase acontecendo, negando o clímax, como, enfim, fazemos em nossos diálogos reais. Esta opção fica evidente na interminável sequencia de finais, já que o encenador provoca imagens e climas que parecem apontar para a resolução do espetáculo para, depois, seguir adiante... Exatamente como é a vida, com seus pequenos finais, mas na qual, sempre, vamos em frente. A qualidade dos diálogos está diretamente ligada ao trabalho de apropriação do elenco, sem exceção, os quatro atores criam um conjunto maravilhoso, e têm total entendimento da linguagem que pesquisaram, e levaram para a cena. Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini, tornam interessante, e atenta, a experiência de acompanhar a vida de seus personagens - ou seria a vida deles mesmos, ou ainda, a nossa própria vida? Consistente, "Vida" cumpre com sucesso sua proposta, bastante clara, e, com sua maestria, é um trabalho teatral de alta qualidade e valor artístico. O espetáculo, que estreou no Festival de Curitiba, entra em cartaz na cidade a partir de Abril.

O editor viajou a convite do Festival de Curitiba.

Sem historinha, mas com sentido

por Beth Néspoli

Seção: Festival de Curitiba/Só uma opinião

24.março.2010

“Não gostei do espetáculo não, não tem história.” Esta é uma cobrança que ainda se ouve muito na saída dos espetáculos. Mais do que nunca, aqui no Festival de Curitiba, onde quase 400 peças estão em cartaz, muitas delas são criadas na linha que se costuma rotular de “experimental”. Nada contra a fábula, a narrativa no teatro. Se encenada com inteligência, dos gregos a Shakespeare, tem intenso poder mobilizador. E pode ser muito, muito mais significativa do que um “experimento” em que fragmentos não passam disso, pedaços que nem com muita boa vontade o público pode unir em uma construção com um mínimo de sentido. Mas a narrativa de uma fábula ou situação não é a única forma de se construir uma poética cênica. O público das exposições de artes plásticas já transita por instalações com certa fluência, usufruindo das sensações provocadas, construindo sentidos. No teatro, ainda há muita resistência a uma estética equivalente.

Vida, espetáculo da curitibana Cia. Brasileira de Teatro, dirigida por Marcio Abreu, é uma dessas montagens em cartaz na mostra oficial que, de certa forma, coloca em cena uma instalação. O simples fato de fazerem parte de uma banda que ensaia um “número” para uma apresentação cívica justifica a reunião das quatro figuras trazidas ao palco pelos atores Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini. É possível falar de vida e morte a partir de um encontro assim. E de várias maneiras. Nada é óbvio na expressão cênica que surge a partir daí. Questões prosaicas, pequenos dramas cotidianos e contradições humanas e universais – como o embate entre o desejo de ser livre e o de estar seguro – vêm à tona numa formalização muito elaborada, cheia de humor e surpreendente. Com dramaturgia criada em sala de ensaio pelos atores e com texto final do diretor, o espetáculo não se funda, como esse mote faz parecer, na facilidade da discussão entre amigos, conversa de bar. Os atores quase não dialogam. As conversas se voltam para o espectador, cuja presença é assumida. Contribui para a qualidade do que se faz e diz a matéria-prima com a qual trabalham: a poesia de Leminski, Maiakovski, Beckett, Haroldo de Campos, entre outros grandes autores – devidamente deglutidos. Com uma caneta a laser, Rodrigo Ferrarini ilumina um ponto num mapa do Planeta e compartilha com o público uma reflexão sobre o fato de alguém escrever algo num ponto obscuro do Planeta e essa ‘obra’ interessar pessoas que vivem muito longe no espaço e no tempo. Vida tem diferentes andamentos para tratar de variações sobre esse tema, a arte como esse ponto de luz que atrai a atenção e interessa ser visto. Que liga os humanos como construtores de uma cultura e os diferencia dos animais.

Em uma segunda camada, o grupo traz para a cena inquietações que são de ordem estética. Em uma delas, Ranieri é empurrado para o palco com um figurino feminino. “Vestiram essas roupas em mim e pediram para fazer alguma coisa”, diz ele, não exatamente com estas palavras. Ele canta com postura de Diva e Giovana Soar, em um ataque meio histérico de fã, diz: “Eu queria ser você, ver o mundo através de você, a partir de sua visão”. Pode-se “ler” aí uma “problematização” do personagem dramático que pede a interpretação na qual o ator “encarna” o outro. O diálogo como canal de comunicação também é posto em questão, na estrutura da peça, e na cena inicial, na qual o ator Rodrigo Ferrarini fala com o público. Mas é apenas uma possibilidade de leitura nesse espetáculo que alcança polifonia.

Quando realizada em sala de ensaio por atores e um diretor talentoso, como é o caso da Cia. Brasileira, a dramaturgia torna-se significativa e se harmoniza com a escrita cênica. Mas o excesso costuma ser o calcanhar de Aquiles do processo colaborativo. Vida estreou no Festival de Curitiba e talvez alguns cortes ampliassem sentidos pelo efeito de concentração, em vez de reduzi-los. Operação sempre difícil de ser feita por envolver afetos, apegos, sobretudo quando todas as cenas estão bem-elaboradas. No teatro, porém, menos costuma mesmo resultar em mais.

UOL Entretenimento

Raul Cortez e Paulo Leminski são homenageados em grandes espetáculos no Festival de Curitiba

ROBERTO MORENO
25/03/2010
Enviado especial a Curitiba*

Atores da Companhia Brasileira de Teatro encenam "Vida" no Festival de Curitiba

Raul Cortez e Paulo Leminski foram homenageados em duas peças no Festival de Curitiba. Uma clássica, outra inovadora. As duas levaram dois anos para chegar aos palcos. Uma passou esse tempo captando recursos, a outra pesquisando a vida do homenageado, bancada por patrocínio.

Cortez, ator, morto em 2006, dedicou 50 anos ao teatro. Leminski, poeta, morto em 1989 aos 45 anos de idade, é um dos símbolos de Curitiba.

"A Loba de Ray-Ban", de Renato Borghi, é a "versão original" de um dos maiores sucessos de Cortez, "O Lobo de Ray-Ban", que ficou em cartaz por quatro anos a partir de 1987.

Cortez interpretava um ator cinquentão em crise, que questionava o significado da arte, era casado com uma atriz (Christiane Torloni), e apaixonado por um ator iniciante (Leonardo Franco). A peça atual é dedicada a ele e à atriz Dina Sfat, para quem o roteiro havia sido escrito originalmente. Doente, Sfat não seguiu no projeto e a loba teve de virar lobo. A versão feminina ficou esquecida durante anos - nem o autor sabia se ainda existia em algum lugar - e encontrada por Leonardo Franco na Biblioteca Nacional. Na nova montagem, Leonardo é o marido, Christiane é a cinquentona e Maria Maya entra no elenco como uma "lobinha", a atriz iniciante. José Possi Neto dirigiu as duas versões.

"A Loba" estrou em São Paulo em novembro de 2009 e chegou a Curitiba já como sucesso de público. Para a peça, foi reservado o maior teatro do Estado, com capacidade para 2.400 pessoas, lotado nas duas apresentações. Num espetáculo afinadissímo, de interpretações irretocáveis, Torloni e companhia mostraram o que o público curitibano queria ver - uma grande atriz, uma bela história, um pouco de humor e um pouco de drama. Tudo dentro dos conformes. Nem o homossexualismo, questão tensa nos anos 80, espanta mais.

"VIDA" NO FESTIVAL DE CURITIBA


Humor e drama

"Vida", da Companhia Brasileira de Teatro, foge dos conformes. Num teatro de 177 lugares, o público, visivelmente "estrangeiro", ria da falta de ar condicionado a cada vez que um ator dizia "está abafado aqui". Havia humor e drama, havia uma bela história, porém fragmentada, e havia uma grande atriz, Giovana Soar, porém o que importa na CBT não são as estrelas, é o grupo.

A obra de Paulo Leminski vem sendo esmiuçada há dois anos, e o espetáculo construído com leituras e ensaios abertos e a apresentação de um solo teatral a partir do texto "Descartes com Lentes", de Leminski.

O resultado é um espetáculo surpreendente, em que cenário, música, plateia e elenco se unem para contar uma história que vai além da biografia do homenageado; é a história da vida, qualquer vida, reconstruída num enredo singelo: um grupo de músicos ensaia para sua apresentação no aniversário da cidade, qualquer cidade.

Se houvesse um jogo, uma disputa entre "A Loba de Ray-Ban" e "Vida", "Loba" venceria no critério de movimentar a cultura de Curitiba. "Vida" venceria no critério de movimentar o teatro, dar um novo passo na dramaturgia.

*O jornalista viajou a convite do festiva

JORNAL DO BRASIL

O teatro como extensão da existência


Macksen Luiz 
25 de Março de 2010

Com Vida, ambicioso título de condensada abrangência, a Companhia Brasileira de Teatro estreou no Festival de Curitiba a encenação da instabilidade do teatro como extensão do inescapável da existência.

Vagamente baseado na obra do poeta curitibano Paulo Leminski, que fornece muito mais à temperatura da sua produção literária do que propriamente seus escritos, Vida percorre escaninhos do que se oculta no fluxo do cotidiano.

O teatro é usado em formas desconcertantes, que desmentem o que aparentemente seus códigos indicam, como as banalidades de tantas palavras jogadas no ar, escondendo desejos e frustrações recônditas, No lugar sem janelas, um lugar nenhum, em que se está, que já foi de passagem, e agora é de ficar, e de onde se quer sair, muitas vezes, um homem propõe perguntas, que ele mesmo tem dificuldade em responder.

Professoral, procura situar o mundo como um espaço geográfico, com turbulências geológicas, movimentos humanos que se globalizam nas similitudes, despejando, qual metralhadora faladora, na área planetária do viver, as minudências dos comentários sobre o tempo ou o patético de uma comemoração de aniversário. Onde se está, quase nunca é onde habita a humanidade de cada um, mas a constatação é de que todos nós estamos aqui.

À qual se segue a pergunta definitiva: “Alguém escapou?”.

Ainda que possa parecer complexa essa arena em que se jogam cenas que perseguem o brilho que haverá por detrás do nevoeiro do dia a dia, a encenação de Marcio Abreu é uma sequência de gestos inesperados e palavras dissonantes de estranhamento ao conhecido. Na vida e no teatro, o que se sabe nem sempre é certeza, e a representação de ambos, se situa, na perspectiva do diretor, nas evocações da memória.

O ator, que tem suas tatuagens transformadas em performance, e um poema que se transforma em canção brega são ensaios permanentes de um espetáculo que nunca está acabado, como uma banda que ensaia, e há sempre os mesmos erros no ritmo.

O cenário de Fernando Marés, que se movimenta e se amplia de modo suave, confina o dramático num espaço que se expande e contrai. A música de André Abujamra está integrada ao espírito desafiador da cena. Nadja Naira, uma figura intrigantemente silenciosa, demonstra os recursos de interpretação bem além da depurada técnica corporal.

Giovana Soar refina a sua atuação com humor de contornos irônicos. Rodrigo Ferrarini domina a torrente de palavras que derrama sobre o público, como um entertainer de uma aula.

Ranieri Gonzalez é arrebatador como o malabarista de interpretação elástica, que se transfigura a cada intervenção.

Uma atuação impecável.

Macksen Luiz viajou a convite da organização do Festival de Curitiba
Quinta-feira, 25 de Março de 2010

ILUSTRADA - FOLHA DE SÃO PAULO

Espetáculo confirma qualidade de grupo teatral de Curitiba

Companhia Brasileira de Teatro, uma das principais do país, apresenta peça inspirada no poeta Paulo Leminski

LUIZ FERNANDO RAMOS 23/03/2010


O teatro como a perplexidade humana diante do céu estrelado. Esta é uma das potencialidades que "Vida", da Companhia Brasileira de Teatro, atualiza em sua visita ao universo do poeta paranaense Paulo Leminski. Fruto de um longo processo de criação, o espetáculo confirma o coletivo de Curitiba como um dos principais grupos brasileiros, em sintonia com as questões mais instigantes do teatro contemporâneo.

É sintomático que o autor do texto final e da encenação, Márcio Abreu, conceda a duas atrizes, Giovana Soar e Nadja Naira, a parceria na dramaturgia. Todo o material dramatúrgico emergiu a partir das questões que as duas, e os dois outros atores, Gonzales e Rodrigo Ferrarini, propuseram.

Nesse sentido é natural que eles se tratem em cena pelos seus nomes reais e em nenhum momento se caracterizem propriamente como personagens de uma trama. Seus desempenhos envolvem fabulação, mas é interna, sempre como emanação de seus próprios contornos. Não interpretam outros e estão presentes, jogando com a situação e com o público.

Sem cair na tentação de evocar a biografia ou adaptar qualquer texto de Leminski, Márcio Abreu construiu sua sintaxe cênica a partir da entrega dos colaboradores e do aproveitamento de alguns vagos sinais da constelação do poeta, como as traduções de Haroldo de Campos de poemas de Khlebnikov e Maiakovski e o título de um de seus livros, "Distraídos Venceremos", que se torna um vero epíteto do espetáculo.

O espaço cênico proposto, "uma sala vazia e sem janelas", ainda que jogue com um subtexto explícito - "quatro pessoas exiladas numa cidade qualquer (...) nos ensaios de uma banda que deverá se apresentar no jubileu da cidade"- remete o tempo todo à situação que ocorre diante do público.

De fato, a verdadeira troca que ocorre na peça é quase sempre entre os atores e a plateia. Suas falas são tentativas de contato -"estão comigo?"- que apresentam suas disposições e idiossincrasias em separado. Seus diálogos são truncados e não progridem. Agem por si e se expõem até as entranhas, mas o máximo de interação que conseguem é executar um número musical bem tosco com grande dificuldade.

O cenário, formado por três paredes e pontuado só por um mapa-múndi, algumas cadeiras, uma mesa e instrumentos musicais, também participa da instabilidade e do isolamento.

A parede do fundo é móvel e ora recua, ampliando o espaço de atuação, ora se fecha confinando os atores à ribalta. Essas variações demarcam mais as intensidades do que as situações dramáticas, já que não está acontecendo propriamente nada que se possa identificar como uma ficção. Tudo o que ocorre é evocativo, sugestão de clima, talvez poesia.

Nessa ambientação mais sensorial que meditativa, a trilha de André Abujamra executada por Gustavo Proença tem um papel decisivo na busca da cumplicidade dos espectadores e chega a arrebatá-los. Contudo, o que garante mesmo essa adesão e em alguns momentos maravilha, como uma noite de estrelas, é o conjunto da obra.

O crítico LUIZ FERNANDO RAMOS viaja a convite da organização do Festival de Curitiba.

Avaliação: ótimo

O Estadao de S.Paulo

Quatro peças quebram os ''Cânones Dramáticos''
Beth Néspoli
24 de março de 2010

O Festival de Curitiba chega à 19ª edição com 374 espetáculos na mostra paralela, o Fringe, e outros 27 na principal. Mesmo com cancelamentos, são quase 400 montagens na programação de 12 dias que termina no domingo. Evidentemente é possível acompanhar uma parte bem reduzida do Fringe e mesmo da mostra principal, uma vez que, nesta última, todas as peças ocupam o mesmo horário, 21h, ou seja, só se pode ver um a cada noite.

Ainda assim pode-se detectar a presença de uma tendência muito presente nos palcos - que não é exatamente nova, mas renovada - do rompimento do drama ficcional fechado. Como drama, em linhas gerais, entende-se aquela criação que se dá a partir de conflitos interpessoais, expressos em diálogos, por meio de personagens colocados em primeiro plano na cena, com os intérpretes servindo de instrumentos a lhes dar vida, contar suas histórias. Diante da capacidade do cinema e de outras artes de criar um mundo fictício, o teatro busca sua especificidade: tirar proveito de ser um encontro, ao vivo, em tempo real, entre espectadores e atores.

Há experiências mais ou menos bem-sucedidas, abre-se espaço para modismos sem consistência, para a provocação formal descolada do humano, sem potência para atrair a atenção concentrada de público para além dos pares. Nessa linha de busca, a montagem curitibana Vida, da Cia. Brasileira de Teatro dirigida por Marcio Abreu, está entre as mais mobilizadoras entre as conferidas na programação. A dramaturgia foi criada em sala de ensaio a partir da poesia de Paulo Leminski, matéria-prima à qual juntaram-se outras fontes, de Haroldo de Campos a Beckett, de Joyce a John Fante. Sem amalgamá-las numa fábula, os atores se apropriam desse material poético de alta sofisticação e a ele mesclam indagações aparentemente prosaicas sobre o estar no mundo. "Quem brilha? O que brilha?" Pergunta o ator Rodrigo Ferrarini na primeira cena. Imediatamente estimulam o espectador a fazer associações que giram em torno de fama, destaque, "lugar ao sol". Expectativa quebrada pelo texto que remete ao vagalume ou a um sapato de verniz. Essa passagem, do poético ao concreto, perpassa todo o espetáculo cujo mote é a reunião de quatro integrantes de uma banda para um ensaio musical. Os atores se chamam pelo nome, atuam como performers, mas não escondem a elaboração artística num falso tom de improviso.

Em Dona Otília e Outras Histórias, o diretor Gilberto Gawrownki busca quebrar a forma dramática dos textos escolhidos, peças curtas da gaúcha Vera Karam, com performances intercaladas entre as cenas, que tanto podem girar em torno do processo de criação do espetáculo, como em confissões dos atores. A fragilidade dessas intervenções faz sobressair o "dramático" sobretudo pela qualidade de atuação da atriz Guida Viana. Esse mesmo desejo, de romper a cena ficcional fechada, está no monólogo Olympia, da mineira Angela Moura que o faz intercalando atriz e personagem, como recurso para fazer conexões entre sua vida e a da moradora de rua que inspira o solo. O desejo de "divorciar-se das formas dramáticas canônicas" está expresso no programa do espetáculo Há um Crocodilo Dentro de Mim, que se apoia sobretudo na figura do ator narrador e numa dramaturgia que tenta mobilizar pulsões com narrativas oníricas que remetem à fera que ainda habita todo homem. Noutro momento, a morte é tema de uma performance da atriz feita diretamente para o público com objetos derrubados do alto de uma geladeira. Juntas, essas peças apontam para uma transição na cena. Problemática, mas preferível à estagnação.

O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ

REVIVENDO LEMINSKI

VIDA Paranaense, Companhia Brasileira de Teatro estreia no Festival de Curitiba peça inspirada na obra de Paulo Leminski
20/03/2010
Fábio Massalli   massalli@odiariomaringa.com.br

“Vida” chegou ao Festival de Teatro de Curitiba como único espetáculo de uma companhia paranense na Mostra Oficial do evento. Os curitibanos da Companhia Brasileira de Teatro fizeram no festival a estreia nacional da peça escrita e dirigida por Márcio Abreu e inspirada na obra de Paulo Leminski. Depois do Festival de Curitiba, “Vida” começará uma temporada em abril no Teatro José Maria Santos, em Curitiba, onde realizou sua estreia, e, no segundo semestre, começa uma turnê pelo interior do Paraná antes de partir para uma temporada em São Paulo. Maringá está na rota da turnê paranaense.

O espetáculo conta a história de dois homens e duas mulheres que fazem parte de uma banda e estão exilados em uma cidade imaginária. Eles ensaiam para fazer uma apresentação comemorativa ao jubileu da cidade. Fechados numa sala vazia, eles convivem entre si e revelam as histórias de suas vidas.

O texto foi escrito por Abreu a partir da obra de Leminski e das referências que os próprios atores vivenciaram a partir da leitura da obra do autor paranense num trabalho de pesquisa que o grupo realiza há mais de um ano. “Leminski tem uma obra múltipla que vai além da poesia. Ele foi tradutor, trabalhou com outras formas de textos, com programas de TV”, lembra Abreu.

O dramaturgo e diretor conta que o nome “Vida” é uma referência ao título de um livro que Leminski escreveu traçando a biografia de quatro personagens históricos: Jesus Cristo, Cruz e Souza, Bashô e Trotski. “A partir disso, as quatro pessoas são biografadas na peça, mas são personagens absolutamente comuns. Verdadeiros anônimos”, diz o diretor.

Para a atriz Giovana Soar, você não consegue pesquisar a obra de Leminski sem falar do próprio Leminski. “Depois da obra, fomos ler sobre o Leminiski, ainda mais em Curitiba, onde ele é mítico. Encontramos parceiros, familiares, estudiosos. E sempre que se começa falando de Leminski, acabamos falando de nós mesmos”.

“Vida” traz no elenco Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini.

GAZETA DO POVO

Universo de Leminski inspira espetáculo Vida


A peça da Cia Brasileira brinca com a linguagem do autor e outras de suas referências

20/03/2010 Larissa Jedyn

Quem brilha? Você lembra dos 15 minutos que fizeram diferença para o resto da sua vida? Por que você não fala? Silêncio. Isso até que ele seja quebrado por mais uma pergunta ou um comentário banal sobre o tempo lá fora. A vida é assim. E a peça Vida (confira o serviço), da Cia. Brasileira de Teatro, que estreou nesta sexta-feira (19) no Teatro José Maria Santos também.


A proposta do grupo, comandado por Márcio Abreu, foi fazer um trabalho mergulhado na arte de Paulo Leminski. Só que não espere encontrar mais do que referências do autor. E elas são muitas. Mas não há espaço para textos recitados inteiros.

O que há é o gosto pela linguagem, as palavras desdobradas que adquirem outro sentido, uma profusão de idiomas e a estrutura – semelhante à coletânea de biografias de Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trotski, escrita por Leminski, a peça coloca os atores Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini atendendo pelos próprios nomes e revelando detalhes da sua vida.

Enquanto ensaiam em uma banda convidada para tocar no jubileu da cidade – não há menção clara a Curitiba, mas onde mais haveria uma chuvinha chata lá fora, gente sem graça de cumprimentar o outro no elevador, o estranhamento com alguém diferente que aparece na cidade? –, os quatro desfilam suas inquietações: uma justifica que este é o melhor lugar para se viver, a outra acaba de chegar, um quer ir embora e ou outro viajar: para o espaço.

Fora isso, há impagáveis momentos que arrancam muitas gargalhadas da plateia, como a hora em que Ranieri aparece travestido – com direito a vestido, peruca loira e saltos altos –, para “cantar”, enquanto os colegas executam uma coreografia. Aliás, destaque para a direção musical, que coube a André Abujamra, e entremeia todo o espetáculo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

links matérias

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=981224&tit=Cia-Brasileira-prepara-a-estreia-de-Vida

http://festivaldecuritiba.blogspot.com/2010/03/vida-festival-tv.html

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/festivaldecuritiba/conteudo.phtml?tl=1&id=983810&tit=Vida-a-mais-curitibana-das-estreias-do-Festival

VIDA

- festival de curitiba - 19, 20 e 21 de março de 2010 as 21h
- temporada - 01 de abril a 02 de maio de março de 2010 de quinta a sábado as 20h e domingo as 19h

quarteto de atores

Quero agradecer MUITO o carinho com que todos os alunos foram recebibos e a profundidade e beleza do espetáculo que apresentaram. Tão harmônico no contato entre o " quarteto de atores" que jogaram uma bola sincronizada que foi direto para o gol. Imagino o tanto que trabalharam, cada frase e cada gesto tem significado e precisão cirúrgica. Fiquei feliz, ganhei à noite e agradeço comovida.


Vida longa a Companhia e ao Espetáculo!

Silvia Contursi

P.S. Um dia (lá para frente) vocês iriam ao Estadual conversar com os atores?

"Quem Brilha?"

Meus queridos, "Quem brilha?"

Todos nós, é claro, que fomos iluminados pela Vida contida na peça.

Para sorte minha, ontem acompanhei alguns alunos de teatro no ensaio aberto (17.03.2010), GOSTAMOS MUITO, eu, alunos...os outros, todos.

Márcio, sabe o que senti? Que algumas paredes de vento estavam por lá, compreendes?...

Achei o ensaio bastante orgânico, poético..

Incríveis os saltos entre o universo didático, se é que posso chamar assim, e o poético onde as personagens se abrem em seus monólogos num mergulho entre memórias e devaneios...é certo que muitas coisas não são para serem entendidas na lógica de nosso velho aristóteles, o fato é que muitas coisas são sentidas além da coerência dos fatos, como por exemplo: como as poesias aparecendo e penetrando o espetáculo, a coreografia (tão trabalhando o corpinho hein heheh) é lindo mesmo, as tatuagens e a forma como a Gio vai apresentando e como o ator vai reagindo honestamente a cada fato, as músicas, aquela "confusão" em que as atrizes respondem pelo nome próprio...em todos os momentos em que a humanidade se coloca em cena é sempre lindo....Todos os fins que não o são, eu gostaria que tivesse terminado com o ator se jogando na parede, por outro lado é lindo o que vem depois com todos no espaço...Vocês produziram muito material, e nós amamos ter assistido.


Obrigada pela oportunidade, como falei precisei acompanhar alguns alunos no retorno para a escola, então saí correndo, de qualquer forma falei com Márcio e, deixei um grande abraço para todos, principalmente para Giovana e Nadja, minhas diretoras e super atrizes...gurias que gostoso ver vocês em cena.

Márcio, teatro quando é bom é bom mesmo, adorei tuas escolhas, tua relação estética com o espaço e a palavra, a presença da poesia enquanto linguagem...

Parabéns queridos, não tenham medo, feliz estréia!!!!!

Carinho Jaque. (Jaqueline Valdívia)

estréia espetáculo VIDA